As sucessivas reduções da taxa básica de juro ao longo do ano e as isenções fiscais em diversos setores finalmente estão repercutindo na economia. Indicadores divulgados na segunda-feira mostram que o país engrena o ritmo de aceleração.
A indústria e as exportações puxaram a alta de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) medido pela empresa de análise de crédito Serasa Experian em julho em relação a igual período do ano passado. É a maior taxa de crescimento desde novembro de 2011. Se feita a comparação com o mês anterior, o avanço fica em 0,4%, o maior resultado nos últimos 15 meses. “O resultado é um sinal de que as medidas pró-crescimento começam a produzir impactos mais significativos”, avaliaram economistas da Serasa Experian em nota.
O consumidor também mostra intenção de comprar bens duráveis. Calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança do Consumidor avançou 0,8% na passagem de agosto para setembro. É a primeira alta desde maio.
– O resultado está bem em linha com o que está acontecendo com a atividade econômica. O consumidor estava mais cauteloso, mas começa a adquirir segurança e a pensar em retomar as compras – disse a coordenadora técnica da pesquisa da FGV, Viviane Seda.
A especialista lembra que o mercado de trabalho se manteve estável durante um período de atividade econômica fraca. Agora, com a crença na melhora, o consumidor também acredita na geração de emprego, interpreta Viviane.
Outro sinal de confiança da retomada da economia brasileira foi dado pelo mercado. Instituições financeiras e economistas ouvidos pelo Banco Central pararam de prever nova redução da taxa básica de juro, a Selic, atualmente em 7,5% ao ano. Isso significa que se consolida a percepção de que, com a recuperação da economia, não há necessidade de mais estímulos desse tipo.
Mas nem tudo é positivo. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) avalia que a retomada nacional e um quadro externo menos turbulento podem pressionar a inflação, cuja expectativa para o próximo ano permanece em patamar “elevado” de 5,5%. Além disso, o economista do Itaú BBA Guilherme da Nóbrega, depois de retornar de uma rodada de conversas com investidores estrangeiros, relatou que ainda há dúvidas sobre a eficácia das medidas adotadas pelo governo. A leitura é de que mudanças nos preços do setor de energia, preocupação em relação ao setor de infraestrutura com possíveis alterações nos pedágios, punições para empresas de telefonia e pressão sobre os bancos para ofertarem mais crédito a juro menor beneficiam a economia, mas também prejudicam empresas.
AÇÃO E REAÇÃO
Estímulos recentes começam a mostrar resultados no Produto Interno Bruto (PIB):
O que foi feito
Prorrogação da redução do IPI para veículos, eletrodomésticos da linha branca e imóveis. No caso dos automóveis, até outubro. Nos demais, até fim do ano.
Corte de 5,5% para 2,5% no juro do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), destinado à compra de máquinas e equipamentos pesados.
Injeção de R$ 30 bilhões no mercado em razão de liberação de depósito compulsório por parte do Banco Central.
Ampliação das compras governamentais com preferência para produtos da indústria nacional, de R$ 8,4 bilhões.
Manutenção do dólar acima de R$ 2, para estimular a competitividade da indústria brasileira na venda de produtos para o Exterior.
Redução na conta de luz, a partir de fevereiro, de 16,2% para consumidor residencial e de até 28% para os demais.
Desoneração da folha de pagamento ampliada para 25 setores, em especial a indústria, a partir de janeiro. Ao todo, serão 40.
Efeitos detectados
Agropecuária: embora tenha se mantido estável em julho em relação a junho, há ambiente de confiança estimulado pela expectativa de clima bom e colheita recorde na safra de verão. O plantio da soja no país começou ontem.
Indústria: puxou o crescimento em julho ante o mês anterior, com alta de 2,6%. A expedição de papel ondulado – considerado um indicador antecedente da atividade econômica, pois é usado nas embalagens da maioria dos produtos – aumentou 9,6% em agosto na comparação com julho.
Serviços: o crescimento de 0,5% em julho ante junho mostra que o setor se mantém em alta, apoiado no aumento da renda e do consumo – a das famílias subiu 0,3% e a do governo avançou 1,2%.
Exportações e importações: as vendas se destacaram em julho, com crescimento de 3,6%. Além disso, as compras caíram, o que contribuiu para o desempenho positivo da atividade econômica.
Investimento: ainda é o destaque negativo, o que pode ser considerado preocupante a longo prazo. O recuo em julho foi de 1,1%.
FONTE: JORNAL ZERO HORA